Hotel Mandarin Oriental Tokyo e o Omotenashi japones


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Existe um termo que é “rei” em todas as empresas japonesas que prestam algum tipo de serviço. É o OMOTENASHI. E o que é Omotenashi? É toda a hospitalidade, o servir bem, tratar com atenção e cuidado. Esse conceito está intimamente ligado a cultura japonesa, e a tal hospitalidade do país já virou referência em todo o mundo.

Durante o planejamento da minha viagem ao Japão, estava ansiosa para sentir na pele esse cuidado e respeito. Essa foi minha viagem de lua de mel, então reservei os melhores hotéis de luxo do país e estava com expectativas altíssimas, pois esperava um serviço muito bom em todos eles. E realmente isso aconteceu. Fui muito mimada e bem tratada em todos os hotéis que fiquei e estava me sentindo como uma rainha a viagem toda. Mas foi só no último deles que o jogo mudou de vez, e o nível subiu exponencialmente. Foi só no último hotel que entendi e senti na pele o real omotenashi japonês, com uma atenção e cuidados que iam muito além do que eu poderia imaginar e prever.

O último hotel que me hospedei no Japão foi o Mandarin Oriental Tokyo e, sem sombra de dúvidas, foi lá que recebi o melhor serviço e atendimento (da vida, me atreveria a dizer). Sem saber de antemão, acabei deixando o melhor para o final, e fechei a viagem com chave de ouro.

Um lobby imponente, no alto do 38º andar.

Mas o que aconteceu que me fez ficar tão impressionada com o Mandarin Oriental Tokyo?

Vou contar aqui pra vocês 4 motivos que provam que o Mandarin Oriental é possivelmente o melhor hotel de Tokyo, e  depois 3 situações que aconteceram comigo e que mostram como o conceito de omotenashi é levado realmente a sério por lá. Leia a número 7 para entender BEM o que estou falando.

1- Vista incrível por todos os lados, e em todos os quartos

A recepção do Mandarin Oriental Tokyo fica no 38º andar de um edifício no coração de Nihonbashi, bairro tradicional e super bem localizado. Ao chegar para fazer o check in você verá de um lado nada menos do que o Monte Fuji e do outro uma vista alucinante do skyline da cidade, com a Tokyo Sky Tree e prédios a perder de vista.

Nos quartos, a mesma coisa: vista do Monte Fuji ou uma vista da cidade que parece um quadro. Não tem quarto com vista ruim, mas se for o tempo que estiver ruim, daí o monte Fuji ficará só na imaginação escondido entre nuvens…

Que tal essa vista do Mandarin Oriental no final de tarde?

Ou você prefere um cházinho no spa mirando o Monte Fuji?

2- Há 12 restaurantes no hotel, e 3 deles tem estrela Michelin

No Japão todo só existem 5 restaurantes de sushi com 3 estrelas Michelin. Um desses restaurantes fica em Hokkaido, sob comando do chef Masaki Miyakawa. Em 2019, Miyakawa abriu seu novo restaurante em Tokyo. Já imaginam onde? Sim, no Mandarin Oriental. O Sushi Shin virou febre rapidamente e tem apenas 8 lugares no balcão.

Outro destaque é o Sense, restaurante estrelado de comida cantonesa. Eu nunca estive em Cantão, no sul da China e estando tão pertinho, achei essa uma boa oportunidade para provar a culinária cantonesa, que é repleta de produtos frescos e frutos do mar. Experimentamos o menu degustação, sentados em uma mesa na frente da janela e com uma vista digna de filme com as luzes e torres de Tokyo, e até com os fogos de artifício da Disney ao fundo. No menu, prato super diferentes para o meu paladar ocidental, mas que eram tão bem elaborados que ficava difícil não gostar. A cada novo prato uma surpresa – e boa!

Aquela foto bem típica de casal em lua de mel, jantando com a vista ao fundo e de mãos dadas.

Olha o agrado que recebemos no restaurante Sense, com uma estrela Michelin e localizado no hotel Mandarin Oriental em Tokyo. Terminando a lua de mel com estilo.

Mas se você procura algo mais descolado e menos formal, a pedida é o Tapas Molecular Bar ou o The Pizza Bar on 38th. O primeiro tem um conceito de “laboratório culinário”, onde você prepara uma variedade de tapas junto com o chef no balcão, de maneira bem criativa e diferente. O The Pizza Bar on 38th parece um lugar inofensivo, um simples forno de pizza com alguns poucos lugares na frente, mas foi onde comi uma das melhores pizzas da minha vida (sem exageros, afinal com ranking de pizza não se brinca).

Pizzino (a esquerda), simplesmente divina: queijo mascarpone, azeitonas pretas e azeite trufado. Diavola (a direira): tomate, rúcula, salame toscano e queijo fior di latte

O pizzaiolo era simpatia pura, e acabamos conversando com as pessoas que estavam sentadas perto da gente. Terminamos e sobrou metade das pizzas que pedimos. Não pensamos duas vezes, pedimos para embalar e levamos pro aeroporto com a gente! Sim, era esse o nível da pizza… não dava simplesmente pra deixar pra trás, então a gente passou essa mini vergonha de atravessar segurança do aeroporto com uma caixa de pizza na mão, mas assim que dei a primeira mordida de novo nem me arrependi e fiquei orgulhosa da minha decisão. =P

3- Estrutura de hotel de rede e tratamento de mini hotel boutique

O Mandarin Oriental tem 179 quartos, mas você é tratado com tanta exclusividade que parece que está em um mini hotel boutique. Acho que conseguir fazer isso é o grande trunfo dos hotéis de luxo de Tokyo com muitos quartos disponíveis, afinal um bom serviço faz toda a diferença na experiência (lembra do omotenashi que contei aí em cima… pois olha que ainda nem chegamos nessa parte do post!).

Recebendo os recém-casados com champagne, bolinho e presentinhos!

4- Hotel recém reformado 

Os 179 quartos do hotel foram reformados em fevereiro de 2019. Então nada de móveis desgastados pelo tempo, decoração antiquada, ou sistema tecnológico defasado. A decoração é lindíssima e segue o conceito “Woods and Water” que está presente em todo o hotel, com elementos próprios do país. A TV conecta com apple e android, e do lado da cama tem uma coisa que eu amo: painel com botões para controlar todas as luzes e entrada USB para carregar o celular sem precisar do adaptador de tomadas daquele país (parece besta, mas quebra um galho danado!

Mandarin Oriental em Tokyo, atenção e cuidado em todos os detalhes durante nossa estadia.

Painel do lado da cama, binóculos para ver o Monte Fuji da janela, e mapa com as principais atividades, lojas e restaurantes da região.

5- Omotenashi em ação, prova número 1: o mel

Finalmente chegamos a parte mais legal desse post: as provas da hospitalidade japonesa que vimos em vários momentos.

A primeira história é a seguinte: no primeiro dia do café da manhã, o Guest Relations dos restaurantes do Mandarin Oriental (isso é: uma pessoa contratada exclusivamente para fazer da sua estadia a melhor possível, e responsável pelo atendimento, conforto e bem-estar nos restaurantes do hotel) veio até a nossa mesa para conversar e nos receber. Vimos ele fazendo isso com todos os hóspedes que chegavam. Ele sutilmente e muito educadamente ia conversando conosco com o objetivo de descobrir como melhorar nossa experiência por lá. Depois da conversa ele sugeriu dois pratos do café da manhã e nos trouxe um mel com pães para adoçar nossa manhã, afinal estávamos na nossa lua de MEL.

O tal do mel japonês vendido no Mandarin Oriental e servido no café da manhã. Foi esse que trouxeram pra gente na mesa.

No final do café ele perguntou o que tínhamos achado e eu falei que tinha pirado com o mel. O mel era uma mistura de várias espécies de flores japonesas e tinha um aroma magnífico, que me lembrava jasmim. Tudo certo até ai, nos despedimos e fomos aproveitar nosso dia em Tokyo.

Voltamos no final do dia e ao entrarmos no quarto vocês já devem imaginar o que tinha lá, não é? É claro, um embrulho com um recadinho e 3 biwa loquat (uma fruta que lembra a nêspera, e é típica do Japão).

Evidência número 1: prestar atenção no que o cliente fala e depois surpreendê-lo. Presentear com um mel pode parecer pouco, ou besteira para alguns, mas um detalhe, que não custa quase nada pro hotel, fez o meu final de dia mais feliz.

6- Omotenashi em ação, prova número 2: 

Ficamos apenas duas noites no hotel, porque depois já era nossa volta ao Brasil. Na primeira noite fomos jantar no Sense, como falei ali em cima. Eu tinha lido que os dumplings de lá eram deliciosos, mas provamos o menu degustação e eles ficaram de fora. Advinhem? No dia seguinte, no café da manhã, tinham dumplings do Sense na minha mesa.

Era 9 horas da manhã, a cozinha do restaurante mal tinha começado a funcionar, mas mesmo assim eles mandaram esse outro agrado pra mim. Mas isso não foi nada perto do que vou contar a seguir… estou começando a ficar mimada! rs.

7- Omotenashi em ação, prova número 3: a maior de todas. Senta que lá vem história. 

A cereja do bolo aconteceu aos 45 minutos do segundo tempo. Passamos nossa última noite no Japão em Tóquio, no Mandarin Oriental, e no dia seguinte reservamos dois lugares no The Pizza Bar on 38th para a hora do almoço. Antes de sair do quarto ligamos para a recepção, pedimos para pegarem nossas malas e descemos para fazer checkout. Depois de tudo certo fomos almoçar. Terminaríamos o almoço e já sairíamos para pegar o taxi para a estação central, de onde pegaríamos o trem para o aeroporto.

Só que enrolamos muito e saímos com o tempo contadinho. Tínhamos o tempo exato para descer, pegar um taxi até a estação e ainda sobrar 20 minutos para conseguirmos comprar bilhete e achar o trem (parece muito, mais isso não é nada de tempo para um turista se encontrar na estação central de Tóquio que é GIGANTESCA). Descemos correndo e pedimos para o staff do hotel entregar nossas malas e chamar um taxi voando. Malas? Que malas? Batata. As malas ainda estavam no quarto.

Otimista como sou, respondi com um sorriso: “sem problemas, mas por favor peguem o mais rápido possível porque o nosso horário ta apertado”. Ele perguntou qual era a hora do nosso trem e quando eu respondi ele arregalou os olhos de um jeito que me criou um pânico imediato. Tolinha…eu jamais iria conseguir fazer tudo com apenas 20 minutos na estação.

Em 6 minutos exatos (eu contei), nossas malas estavam lá embaixo e o staff do hotel rapidamente as colocou dentro de um taxi. Agora teríamos apenas 14 minutos na estação para conseguir fazer tudo, mas vida que segue.

Observei de canto de olho quando um dos funcionários mais seniores falando com um outro jovem que – de novo – abriu um olhão e fez um positivo com a cabeça. Esse funcionário mais novo entrou no taxi junto com a gente e começou a falar japonês com o motorista. Eu achei que ele estava apenas dando instruções sobre onde deveríamos descer na estação, mas quando o carro começou a andar e esse jovem continuou lá dentro, eu percebi que não estava entendendo mais nada.

Alguém se infiltrou no banco da frente do nosso taxi. =P

Eu e o Cleber nos olhávamos, esperando um brecha na conversa nipônica para perguntar o que estava acontecendo e por qual motivo ele continuava no carro com a gente. Quando perguntamos recebemos a seguinte resposta: fiquem tranquilos, estou aqui para tentar fazer com que vocês não percam essa trem. “Sim. É isso mesmo?”, ao que ele respondeu algo na linha “nós atrasamos para descer as malas de vocês e estamos nos responsabilizando por isso”. Gente, isso me deu um alívio que vocês não fazem ideia. Pelo menos não estávamos sozinhos.

Olhei no relógio, faltavam 15 minutos para a partida do trem e ainda estávamos dentro do carro. Já estava perdendo as esperanças de que isso ia dar certo, e por mais que a fala dele fosse bem assertiva, estava na cara o quanto ele estava apreensivo com a missão que lhe foi dada. Ao longo da viagem ele nos contou que era chinês e estudava hospitalidade na Suíça e estava fazendo estágio de férias no Mandarin Oriental e tinha começado há algumas semanas (e olha a bucha que ele recebeu logo de cara! Rs).

12 minutos antes da partida do trem nós chegamos na estação. Quando eu olhei a minha volta perdi todas as esperanças restantes, seria impossível decifrar tudo em 12 minutos, havia filas e bagunça por toda parte. E digo mais, seria impossível se achar naquela estação mesmo com 20 minutos, que era o tempo que tínhamos calculado antes. Minha única esperança estava naquele cara de terno que também era estrangeiro como a gente, mas tentava de todo jeito nos colocar naquele trem na hora certa. Ele e o Cleber foram para uma maquininha comprar as passagens enquanto eu tentava mais informações e cuidava das malas (ah tem mais essa, tínhamos duas malas grandes, duas pequenas, uma mochila e a caixa de pizza… haha).

7 minutos para o trem sair. Na maquininha já não estavam mais vendendo passagens para aquele trem que queríamos. Mas não tínhamos outra opção. Praticamente virando um brasileiro que dá um jeitinho em tudo, nosso amigo nos disse pra comprar dois tickets pro trem seguinte, e nós compramos, claro. Ele ainda sacou um dinheiro do bolso e comprou mais um ticket qualquer pra ele, falando “Vamos?”. Fomos.

5 minutos para o trem sair e estávamos passando as catracas. Do outro lado, um mundo de corredores, escadas e placas indecifráveis. Nessa hora meus amigos, eu só sei que esse cara arrancou a mala grande da minha mão, me deixando com uma pequena apenas e a mochila, e falou com um senso de urgência “Follow me”. Daí meus amigos o bicho pegou. Eu não botava fé no preparo físico dele (e muito menos no meu!), mas ele simplesmente levantou aquela mala gigante e saiu correndo, ultrapassando qualquer obstáculo no caminho. Eu, com a minha malinha mal conseguia acompanhar o passo dele,  e quando olhava pra trás estava o Cleber com uma cara de pânico tentando nos seguir com uma mala grande e outra pequena.

3 minutos para o trem sair e parecíamos longe de chegar. Já tínhamos passado por umas 3 escadas rolantes, e atravessado alguns corredores quando eu li a placa que esperava “plataforma para o trem do aeroporto de Narita”. Eu nem acreditava no que eu tava vendo. Mais um lance de escadas e estaríamos lá.

2 minutos para o trem sair e estávamos cara a cara com ele. Os três ofegantes e suando mais do que tampa de marmita, e se olhando sem acreditar que tínhamos conseguido. Entramos correndo para guardar as malas enquanto ele nos esperava na porta do lado de fora, com uma cara de alívio e dever cumprido.

30 segundos para o trem sair e tiramos essa selfie. Sim, ainda deu tempo de tirar uma selfie.

Como se não bastasse, depois de nos despedirmos e sentarmos nos nossos lugares, ele ainda ficou lá nos esperando. E quando o trem ameaçou sair, ele começou a se curvar fazendo aquela saudação japonesa clássica. E assim continuou até o trem sair de vista. Pra mim, esse foi o maior exemplo de omotenashi e preocupação com um hóspede que já vivi na minha vida. Aquilo tudo foi muito louco e – agora que já passou posso dizer isso – divertido.

Hoje eu tenho plena certeza de que não pegaríamos esse trem sem ajuda, mesmo chegando com 20, 30 minutos ou até mais tempo de antecedência. Então só tenho a agradecer por eles não terem descido nossas malas antes… =P. Arigatô.

Chegamos no aeroporto na hora, e voamos para o Brasil convictos de que dificilmente outra viagem superaria tudo o que vivemos na nossa lua de mel no Japão. ♥

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