Para que serve o Carnaval?
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“Vou aproveitar o carnaval para…”. Com inúmeros finais possíveis, esta frase é só um exemplo do quanto o carnaval pode ser apenas um grande motivo para simplesmente quebrar a rotina. Até mesmo para quem não vai sair da cidade. Ir pra praia, beijar na boca, ficar bem louco, ou quietinho lendo um baita livro, em casa ou no meio do mato. Tanto faz.
Carnaval é pausa, é liberdade. De extravasar como o dia a dia acaba não permitindo. De escutar marchinhas que ficam silentes nos outros meses. Fantasiado ou não, na folia ou não, o carnaval marca um intervalo. Permita-se não pensar em nada.
Já tem uns anos que os carnavais de rua voltaram a ser protagonistas, deixando os sambódromos e bailes de carnaval em segundo plano. Ainda bem, as ruas precisam ser ocupadas no resto do ano como são durante a folia. Gente nas ruas nos faz perceber o quanto as cidades são nossas. Legal ver esse movimento vindo das pequenas para as grandes. Mais de uma década atrás passei dois senhores carnavais pelas ladeiras coloniais de Diamantina, em Minas Gerais. Que dias incríveis, que energia. O carnaval paulistano era um fiasco naquela época.
São Luiz do Paraitinga, no Vale do Paraíba, começava a ganhar fama quando fui parar por lá na primeira vez, em 2005. Aprendi naquelas ruelas a entender um carnaval com marchinhas que nunca havia escutado na vida, mas que em uma hora estava cantando como se as conhecesse desde sempre. O espírito do lugar pequeno, do carnaval miúdo, me pegou.
Custei a achar o carnaval do Rio legal. Mas no começo, nesse mesmo 2005 e 2006, tinha alguma coisa ali que era bastante regional. Não era esse mega carnaval, nada de mega blocos, a não ser o Bola Preta. Santa Teresa era um lugar transitável. Mas aprendi ano a ano a amar o carnaval da Cidade Maravilhosa.
E carnaval longe da bagunça, claro. Na praia, no interior. Estar com gente querida em um lugar legal é tão quebrador de rotina quanto sair pulando que nem um louco atrás do trio. Tem hora que até para o maior dos foliões não faz sentido estar lá, existe contexto para tudo.
No quesito carnavalesco-folião tenho duas lacunas que sinto muito: Olinda e Salvador. Embora o conceito de abadá e cordão não seja nem de perto a minha ideia de festa democrática, sei de muitos trios por lá que são livres e até mesmo a pipoca deve ser uma experiência interessante. Tem algo de transgressor em estar ali, embora ouça inúmeros relatos de momentos tensos do lado de fora da corda.
Estar na rua, fantasiado, bem humorado, descontraído é uma provocação ao nosso dia-a-dia. Mesmo barulhenta, muvucada, suada, grudenta, bêbada e suja, não deixa de ser uma grande meditação. Desfrutar da ruptura com o cronograma para cantar com uma multidão um refrão empolgante é algo que engrandece a alma e afugenta os maus espíritos. Sair por aí pulando e cantando expurga males, angústias que os outros 360 dias do ano vão guardando em caixinhas. O Carnaval é a hora de abri-las.
Pode soar como perda de tempo, chatice, besteira pra muitos. Respeito. Taí o tempo livre, de cinco dias para sumir da sua rotina. Com bagunça ou não. Você pode abrir suas gavetas de frustrações e dissabores lá no meio do mato, na praia, num sítio ou na sala de casa, com uma bela leitura e um lindo som na vitrola. Só não deixe de cantar o refrão.
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