Curso de mergulho: minha experiência pra virar mergulhadora
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Apesar de ter nascido e crescido em Santos, ou seja, na praia, minha relação com o mar na infância era superficial. O mar era como uma grande piscinona onde eu brincava muito e eventualmente encontrava alguns sacos plásticos – pois é, se você acha que as praias da Baixada Santista são sujas atualmente, você não imagina o que era o fim dos anos 1990 e o começo dos 2000.
Em 2006, quando eu tinha 12 anos, fui com meus pais para Fernando de Noronha e sinto que foi aí que eu descobri o mar de verdade. Com uma máscara e um snorkel, eu vi tanta vida. Uma realidade que eu nunca tinha visto antes e eu não conseguia tirar os olhos daquele novo mundo.
Lá, descobri que era possível, já na minha idade, fazer um mergulho de batismo e pedi muito para fazer, mas meus pais não deixaram – Noronha sempre foi caríssima, afinal, e eu era uma criança empolgada. Desde então, coloquei como meta de vida fazer um curso de mergulho.
Em 2020, eu tinha conseguido me organizar um pouco melhor financeiramente pela primeira vez na vida e comecei a pesquisar para fazer o curso, mas aí veio a pandemia como um balde de água fria.
Em 2022, viajei para o norte de Alagoas e tive muitas experiências com snorkel, o que reavivou essa vontade em mim. Então decidi que desse ano não passava: eu faria um curso de mergulho e tiraria a carteirinha de mergulhadora.
Assim que voltei, comecei a pesquisar tudo sobre o curso, entrei em contato com umas cinco ou seis escolas de mergulho, calculei todo o orçamento e estava enrolando. Até que um dia uma das escolas me mandou uma mensagem dizendo que abriria uma turma naquele final de semana e perguntando se eu não estava interessada. Coincidentemente, eu estava de folga naquele dia, passando perto da escola e pensei “é hoje”, e me dirigi pra lá.
Certificação
Eu sempre soube que queria não apenas fazer um curso de mergulho, mas queria fazer um que me desse uma certificação internacional. Como eu amo viajar e tenho esse hábito, seria um investimento mais lógico obter a permissão para mergulhar em qualquer lugar do mundo.
Nas minhas pesquisas, descobri que a certificação PADI era a mais indicada para o que eu queria. Ela não é a única certificação internacional que existe, mas é a mais comum. A PADI (Professional Association of Driving Instructors) certifica de 80 a 90% dos mergulhadores do mundo, é válida para o resto da vida e aceita em todos os continentes.
Com isso, entrei no site oficial da PADI e procurei divecenters recomendados por eles. Há vários em São Paulo e eu fiz um filtro por localização, pesquisando todos que ficavam em locais da cidade que seriam mais convenientes para mim.
Com eu disse, entrei em contato com várias escolas. Há poucas variações entre elas, porque o curso é um padrão da PADI. O valor acaba sendo muito similar também. Nas que vi, a diferença era mínima.
O que muda mais é o local onde é feito o check out, ou seja, o mergulho no mar. Isso foi o que me levou a escolher a Narwhal. A escola tem uma base fixa em Ilhabela e por isso o check out, o primeiro mergulho no mar, pode ser feito todos os finais de semana. Foi isso que me fez escolher definitivamente.
A Narwhal é uma escola com mais de 30 anos de experiência e com uma estrutura ótima. Eu senti que tive todo o apoio necessário e um atendimento de primeira, realmente recomendo.
Quanto custa um curso básico de mergulho
Como eu disse, há pequenas variações entre escolas, mas o preço final acaba ficando praticamente o mesmo. Vou detalhar tudo que eu paguei, para vocês terem noção tanto do custo total quanto do que exatamente precisa ser pago nesse processo.
O curso da Narwhal custava em abril de 2022 R$ 2150,00. Esse valor inclui aulas teóricas, material teórico, aulas práticas, check out em Ilhabela (com equipamentos inclusos) e a certificação PADI.
O check out não incluía o transporte, hospedagem ou alimentação em Ilhabela (só alguns lanchinhos no barco durante os mergulhos). Eu achei isso bom, porque consegui montar essa viagem da forma que cabia no meu bolso.
Como fui sozinha, comprei passagens de Buser para São Sebastião, pagando R$ 90 ida e volta, fui de ônibus municipal até a balsa, que eu cruzei a pé (é de graça para pedestres). Do outro lado, caminhei até a minha hospedagem, que escolhi justamente uma que ficasse entre a balsa e a base da Narwhal.
Fiquei hospedada em um hostel que custou R$ 130 para duas noites. Comprei comidinhas no supermercado para evitar ao máximo comer fora.
Há algumas escolas que oferecem o pacote completo do check out, com transporte e hospedagem, mas é pouco comum.
Há também lugares que não incluem o valor da certificação no custo total do curso e você precisa pagar uma taxa extra por ela, que se não me engano é de R$ 90.
Uma coisa comum a todas as escolas é exigir que quem faz o curso deve adquirir as próprias nadadeiras, máscara e snorkel. Eu comprei o modelo mais básico de tudo, porque não cabia no meu bolso investir em equipamentos melhores sem antes saber como seriam meus hábitos de mergulho.
Paguei pouco menos de R$ 500 no kit, então acho bom considerar esse como um valor mínimo. Daí, você pode ir ao infinito e além. Não tente comprar máscaras, snorkel e nadadeiras na internet ou em lojas como a Decathlon sem antes ter certeza de que eles são apropriados para a prática de mergulho. Recomendo conferir com o instrutor antes de fazer qualquer aquisição.
Na Narwhal, eles pedem que você entregue um atestado médico antes do check out. Eu fiz uma consulta com um médico do convênio, então não tive gastos com isso, mas se essa não for uma opção possível para você, adicione também este gasto na conta.
No total, portanto, um curso de Open Water Diver com certificação PADI custa pelo menos R$ 3.000,000. Ele pode sair bem mais caro, mas dificilmente sairá mais barato. Acredito que a única forma de pagar menos seria no caso de pessoas que já moram em lugares onde é possível fazer um check out, porque aí não haveria custos de viagem.
A formação inicial
O curso básico ou iniciante é chamado de “Open Water Diver”. Isso porque é uma certificação que te permite mergulhar em águas abertas, ou seja, em lugares onde não haja um teto sobre a sua cabeça. É permitido mergulhar no mar ou em água doce, mas não dentro de cavernas ou dentro de naufrágios.
Um mergulhador de águas abertas pode fazer mergulhos de até 18 metros de profundidade, saindo da praia ou de uma embarcação, usando ar comprimido, que é o cilindro tradicional, com oxigênio, nitrogênio e outros gases presentes na atmosfera.
Para fazer os mergulhos, você precisa estar acompanhado de um dupla, que pode ser um instrutor ou um outro mergulhador certificado. Nos primeiros mergulhos, é recomendável que seja alguém mais experiente a te acompanhar.
Um mergulhador iniciante pode fazer alguns outros cursos de especialização, como mergulho noturno ou mergulho com roupa seca, por exemplo.
Como é o curso de mergulho
O curso de mergulho Open Water Diver da PADI é composto por três partes. Uma teórica, uma em águas confinadas, ou seja em piscina, e uma em águas abertas, no mar.
Na parte teórica você passa por cinco módulos. Eles podem ser dados todos em um só dia, como foi o meu caso, ou divididos em dois dias.
Algumas escolas fazem 4 dias de aulas à noite durante a semana, sendo dois de teoria e dois de piscina. Outras fazem um final de semana completo, podendo ser um inteiro de teoria e outro todo de piscina ou dois metade teoria, metade piscina.
Eu fiz a teoria toda em um dia e claro que foi massante, mas como eu estava extremamente empolgada, me mantive atenta o tempo todo. Também gostei de só precisar entrar na piscina uma vez, por questões logísticas mesmo.
O dia de curso de mergulho na piscina é BEM cansativo. Mais até que o de mar, porque você fica umas 6h direto na água. Lá você aprende a montar o equipamento e faz uma série de exercícios que são simulações de situações de emergência que podem acontecer em um mergulho.
Depois disso, você faz o check out no mar, onde você tem que repetir os exercícios. Na piscina você faz até mais exercícios do que no mar, mas nada do que você fizer no mar, não terá feito já na piscina.
O check out consiste em quatro mergulhos, dois em cada dia. Cada mergulho é pré-requisito para o próximo, então se você não fizer o primeiro dia, não poderá fazer o segundo. Acredito que dependendo da escola, se você tiver algum tipo de problema em um mergulho inicial eles podem tentar acomodar para que você consiga concluir o curso, mas a regra é essa: cada mergulho é pré-requisito para o próximo.
Como foi o meu check out
Mergulho 1
Eu cheguei muito animada para o meu primeiro dia de mergulho no mar e só um pouquinho tensa. Quando cheguei no barco com minhas coisas, descobri que quem seria o instrutor naquele final de semana era o Leandro, que eu já tinha conhecido e conversado bastante quando fui fechar o curso na loja da Narwhal em Perdizes e isso me deixou muito tranquila.
Já na água, fiquei um pouco desconfortável porque o mar estava com algumas ondas e no começo ficamos fazendo exercícios de superfície. É comum que iniciantes não saibam direito como ficar flutuando super bem e se deixando levar pelo mar na superfície, mas isso é bem cansativo. Quando estamos tão equipados, não é fácil furar onda, como fazemos na praia, por exemplo, então ficamos tomando onda na cara.
Na hora que afundei, porém, fiquei completamente tranquila. Nós descemos cerca de 4,5m e lá embaixo fica uma corda amarrada na horizontal, que é chamada de sala de aula. Nós temos que ficar de joelhos na areia segurando na corda enquanto esperamos nossa vez de fazer os exercícios.
Pra mim, essa parte foi muito tranquila, eu me senti extremamente calma. Foi legal porque instantaneamente pensei “é por isso que eu queria fazer isso”. Eu sempre me senti muito à vontade na água e quando estou mergulhando é como se o mundo todo se calasse e o tempo parasse.
Mergulho 2
Depois de um início muito positivo, o segundo mergulho já não foi a mesma coisa. Eu tinha comido demais entre os mergulhos e quando entrei na água pela segunda vez estava me sentindo muito cansada e com um pouco de refluxo, o que me deixou desconfortável nos exercícios de superfície.
Na hora de descer, fomos em duplas junto com o instrutor e eu seria a primeira. Logo no começo, porém, tive dificuldade para equalizar o ouvido (que é aquele movimento de tampar o nariz e fazer força para igualar as pressões interna e externa, como no avião). Tentei algumas vezes e não estava conseguindo de jeito nenhum, então o instrutor pediu pra eu subir e esperar um tempo.
Fui por último e mesmo assim continuei com dificuldade. No mergulho, o certo é equalizar o ouvido antes de incomodar e o meu já tinha passado o ponto e estava doendo. Na verdade, por algum motivo a equalização do ouvido sempre foi minha maior insegurança com o mergulho, eu tinha a sensação de que teria problemas com isso e quando começou a acontecer, eu fui ficando nervosa.
Enquanto tentava descer e equalizar sem sucesso, fiquei muito ansiosa porque comecei a pensar que se eu não conseguisse fazer aquele mergulho, não poderia fazer os do dia seguinte. Com isso, meu sonho seria adiado e eu teria que gastar muito mais.
Percebi que estava ansiosa e pedi para o instrutor parar. Ficamos lá alguns segundos a cerca de 1,5m da superfície enquanto eu respirava e me concentrava. Depois disso, acabei conseguindo chegar ao fundo, mas ainda estava um pouco desconfortável e cansada.
Apesar de ter conseguido fazer os exercícios, me senti meio perdida nesse segundo mergulho – estava enxergando mal, talvez por causa dessa ansiedade – e quando chegou ao fim eu fiquei aliviada. Amanhã seria outro dia.
Mergulho 3
Depois da experiência do segundo mergulho, cheguei para o segundo dia meio desanimada. Fiquei me questionando se na verdade eu não ia gostar de mergulhar, diferente do que eu sempre imaginei, e estava morrendo de medo de não conseguir equalizar o ouvido de novo, uma vez que ele só tinha normalizado de vez alguns minutos antes de embarcar novamente.
Porém, quando o barco chegou no local do mergulho, notei que o mar estava paradinho, o que já me tranquilizou bastante. Descemos logo e eu consegui não ter problemas com a equalização porque o instrutor tinha me dado algumas dicas antes de entrar na água.
A visibilidade do mar estava ínfima, então eu basicamente só segurei na corda e fiquei lá super zen como na primeira vez. Senti um pouco de frio, mas fiz tranquilamente os exercícios e me senti confortável, mesmo sem enxergar nada.
Mergulho 4
O mergulho final seria só um passeio, sem exercícios. Éramos seis alunos e três instrutores e a ideia era nos dividirmos em três grupos, cada dupla com um instrutor, uma seguindo a outra para o passeio.
Eu e minha dupla ficamos para o final e assim que descemos já não enxergamos o grupo da frente. Nadamos um pouco, mas perdemos também o cabo que guiava o caminho. O instrutor ficou no meio de nós dois, de mãos dadas com a gente para não nos perdermos, porque em uma pernada já não dava pra ver nada.
Meu instrutor achou melhor a gente voltar à superfície para encontrar os outros mergulhadores pelas bolhas de ar. Nós achamos e voltamos a descer, mas quando encontramos com eles embaixo d’água, vimos que também estavam perdidos.
Demos mais uma microvolta atrás deles, mas logo voltamos a subir e todos os outros começaram a subir também. Esse último mergulho foi um pequeno caos de 10 minutos, mas acabou sendo super engraçado. Com isso, acabei meu check-out.
Diferente da piscina, o mergulho no mar não dura o dia todo. Se não me engano, embarcamos por volta de 9h e cerca de 14h ou 15h já estamos de volta. Mesmo assim, é tudo bem cansativo, então não adianta fazer grandes planos de turismo para o período da tarde ou noite.
No fim, se você tiver feito tudo direitinho, seu instrutor vai te entregar um certificado. Com ele, você envia também uma foto sua e a própria escola entra em contato com a PADI, enviando todas as suas certificações, para que você tenha sua carteirinha de mergulhador. Atualmente ela é digital e você precisa baixar um aplicativo para ter acesso.
Leia também: Praias de Ilhabela
E aí, deu pra te ajudar a entender como virar um mergulhador? Se tiver dúvidas sobre o curso de mergulho, me mandem aqui nos comentários e eu tento ajudar!
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