Kitesurf em Jericoacoara: como é fazer aulas?


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Quando alguém fala em férias na praia a imagem que logo vem à cabeça é a de alguém deitado numa espreguiçadeira sob o sol. Sim, de fato, o período de descanso traz consigo a ideia de preguiça. Porém praia pode querer dizer sol, mar e aulas. Sim, especialmente se o destino escolhido for a vila de Jericoacoara, ou simplesmente Jeri, a 296 quilômetros de Fortaleza.

Privilegiada por sua localização numa ponta protegida pelo Morro do Serrote, a região canaliza ventos que a tornam um dos lugares mais perfeitos do planeta para a pratica de kite e windsurfe. Isso os europeus, especialmente italianos, descobriram há mais de duas décadas. Mas o que cada vez mais gente vem descobrindo é que dá para tirar uns dias de dolce far niente para aprender um novo esporte e, quem sabe, uma nova paixão.

Crédito foto: Karoline Maia

Uma grande coisa é que desde meados de 2017 Jeri está mais próxima de São Paulo. Sim, isso porque agora há voos diretos da Gol e da Azul a partir de Congonhas, Guarulhos e Viracopos, em Campinas. O novo aeroporto de Cruz, a 48 quilômetros de Jeri, encurtou o tempo de viagem de 5 horas desde Fortaleza para apenas uma hora. Claro que ainda não se sabe como o novo acesso impactará o turismo na região. Veja mais infos sobre como ir para Jeri aqui.

Por que aprender kitesurfe?

Eu me propus a experimentar o kitesurfe porque já tinha aprendido wakeboard e snowboard. Achei que com a base destes dois esportes, mais alguns anos de surfe, seria mais fácil. Além disso, na adolescência brinquei com pipas de duas linhas e já tinha alguma intimidade com aquela força que elas têm.

Pra quem sempre quis voar… Foto: Luciana Alcover

O kitesurf está, sem dúvidas, muito mais na moda do que o windsurf. Mas acho que para além disso ambos são esportes fascinante em que você mescla não apenas o prazer de deslizar sobre a água com a ideia de ser movido pelo vento. Não ter nenhum motor e funcionar apenas com uma equação de fatores naturais e equilíbrio.

Além disso, assim como mergulho, surfe, snowboard, esqui, etc, é um conhecimento seu e que você carrega para qualquer lugar. É um saber que você leva para suas próximas ferias. Você não precisa levar equipamentos, porque se um lugar é propício para algum esporte, eles vão alugar tudo o que é preciso por lá.

Onde aprender kite e windsurfe?

Há um monte de escolas que ensinam wind e kite, como todo mundo fala, em Jeri e na vila do Preá, a 12 quilômetros dali. Para muitos, o Preá tem as condições ideais para praticar kite, mas não tanto para aprender. Por isso, talvez seja bacana procurar escolas que ensinem nas pequenas lagoas de Jeri, atrás da famosa Duna do Pôr do Sol.

Ali, com a água rasinha e sem corrente, você vai sentindo a força do kite (a pipa) e pegando traquejos de controle. É mais fácil do que dizem e menos fácil do que os prós fazem parecer.

Crédito foto: Luciana Alcover

Eu fiz aula no Club Ventos e a experiência toda foi bem bacana. Isso porque, mesmo na maré vazia, eles levam de bote ou de jardineira até as lagoas ou num cantinho de mar mais protegido. E também depois te levam de volta ao clube, que conta com uma estrutura invejável no melhor ponto da praia. Ali dá pra almoçar num bufê com saladas frescas e pratos quentes.

Leve em consideração que se as aulas forem na vila do Preá, isso envolve deslocamento em jardineira (4×4 adaptado para vários passageiros). Porém isso implica em passar o dia todo no Preá. E uma aula costuma durar 3 horas, ou seja, você pode ir e acabar passando o dia todo por lá, o que inviabiliza fazer mais de um passeio num único dia. Os passeios, em geral, rolam durante um período, seja de manhã ou à tarde. Entre as boas escolas de Jeri e do Preá estão o Rancho do Kite, a Kiteiscool e a Info Kite School.

Como são as aulas de kitesurfe?

Tenha calma, segure a ansiedade ou você pode se frustrar. Uma notícia boa: o kite é bem menos ingrato do que o surf, que você pode passar anos aprendendo sem nunca se sentir satisfeito em fazer o básico. Mas, como tudo na vida, é preciso valorizar cada passo do processo. Os cursos custam na faixa de R$ 1.500 para 9 horas de aula, 3 aulas de 3 horas cada, com todo o equipamento incluso.

Crédito foto: Luciana Alcover

Num primeiro momento você vai se familiarizar com o equipamento. Afinal, aquelas linhas, o trapézio, o cinto, os encaixes e a prancha não são coisas com que lidamos todos os dias na vida na cidade. Além disso tudo, você precisa aprender a encher o kite – sim, a pipa tem uma borda inflável que a impede de afundar quando cai na água e que facilita a decolagem. Entender a lógica das linhas, direita e esquerda não são etapas tão triviais.

Vamos à decolagem!

Uma vez no ar, é preciso tempo pra sentir como o kite se comporta. Quanta energia ele produz dependendo de que posição está. Ah, tudo isso na areia. Calma, ainda tem mais um tempinho antes de ir pra água. É preciso sacar as manhas da pilotagem. Notícia boa pra quem, que nem eu, não tem braço forte e musculoso: é tudo jeito, não força.

Uma vez entendido como o kite funciona, você vai entrar na água. Na primeira lição você não vai nem relar na prancha. Vai só entender como é estar na água com o kite e a posição dele em relação ao vento. Cada etapa é importante para a próxima.

Crédito foto: Luciana Alcover

A partir da segunda aula, sempre no dia seguinte, já se começa a treinar o arrasto do kite na água. Você vai se deixar levar pela pipa arrastando o corpo e, eventualmente, engolindo um pouco de água. É preciso aprender o que acontece quando você não estará de pé na prancha. Outra manobra a praticar é o body track, que você vai usar quando estiver sem a prancha no pé.

E a partir de então você passa a ser apresentado à prancha. Aos poucos vai ganhando intimidade e percebendo que é preciso ter feeling para que a coisa aconteça. Claro, prepare-se pra vários tombos e escorregões. É numa leveza  natural que a coisa se dá. Alguns têm mais facilidade do que outros. Mas você vai achar o seu tempo. E certamente também vai encontrar um novo esporte.


PS: Agradeço ao amigo Jorge Diaz pelo papo que inspirou esse post e pelos detalhes do curso recente dele que ajudaram este repórter a refrescar a memória e escrever mais detalhadamente.

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