Quatro provas de que a vida é mais legal em Berlim
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1. Berlim é o centro do mundo
É muito difícil de saber qual idioma usar para pedir desculpas ao esbarrar em alguém em Berlim. Vietnamitas e Russos em Lichtenberg, Turcos em Neukölln e Kreuzberg e estrangeiros de todo o tipo no resto da cidade. Alemão, sim – mas mais por via das dúvidas do que por ser idioma oficial. E provavelmente me dirão “sorry”, e isso continuará sendo alemão.
Berlin, portanto, é o centro do mundo como alguma Babel do multiculturalismo moderno. E a cidade ainda ganha por se encontrar no meio do caminho das rotas áreas, entre o ocidente e o oriente. E da mesma forma, no meio do caminho entre as ideologias do mundo, as ideias contrastantes, no itinerário de todos e o fim do caminho para artistas, organizações, nômades e líderes mundiais.
Até me permito ilustrar isso: em uma de minhas primeiras noites em Berlin, lembro de me perder. Estava munido de um largo mapa da cidade, às três da manhã de um dia no começo de julho de uns três anos atrás. Eu contemplava lentamente as placas da estação de Warschauer Straße e decidia com calma qual seria o próximo trem ia pegar, quando fui abordado repentinamente por completos estranhos que queriam me levar para a festa deles.
Normalmente isso seria meio estranho e complicado (e suspeito que eu teria recusado o convite), mas no caso foi como se eles estivessem me esperando. Na rua onde ficam tantas das festas eletrônicas da cidade, entre uma multidão de jovens e gente bastante peculiar, de repente, estava eu lá com um casal de húngaros, um australiano, um alemão e mais gente de lugares que nem cheguei a descobrir quais são — o mundo queria que eu me perdesse ali como um turista desavisado. E no meio da multidão pulsante, ninguém se importava que eu estivesse perdido.
2. Não tão barato, mas tampouco caro
A Europa é um lugar bem caro. É preciso fazer essa concessão, especialmente no que tange à sua porção ocidental. Inclusive não é raro ler e ouvir relatos de viajantes de que, bem no fim, o Velho Continente continuará sempre lá, e o jovem viajante mais sensato deve usar sua vitalidade e poucos trocados para explorar a América Latina, o Sudeste Asiático, os Balcãs, antigos países da USSR e quem sabe até o Oriente Médio e a África.
Mas há viajantes e viajantes, e apesar dos caranguejos no bolso, há também quem caia no coração da Europa e não consiga deixar de se deslumbrar com esses países com cara de centro do mundo. E, para esses, tenho que dizer: vão à Berlin.
A Alemanha é uma das economias mais fortes do mundo e, como era de se esperar, seus padrões são proporcionalmente altos. Nada como a Suíça, onde mesmo um picolé custa uma pequena fortuna, mas também não é exatamente barato.
Berlin, no entanto, foge à regra. “Berlin é pobre, mas sexy”, como disse uma vez Klaus Wowereit, então prefeito da cidade, por isso, há a garantia de que, apesar da cidade contar com menos privilégio no ranking de cidades ricas da Alemanha, sempre haverá um destino para o viajante de budget apertado. Nisso se inclui todo o custo de vida, despesas mais ordinárias e também entretenimento.
Nesse sentido, inclusive, a minha dica é simples: abrir o Google e procurar por Studentenclubs ou Bier-Keller, que são barzinhos mantidos em residências estudantis, sem custo para entrar e onde meio litro de cerveja (menos elaborada) custava 1 Euro. Bom, bonito, barato e com pessoas legais ao redor. E de lá para uma baladinha, não menos barata em suas devidas proporções, basta alguns pontos de metrô. Fácil receita para criar boas histórias.
Leia mais: Bate e volta de Berlim a Potsdam
3. Uma história de cicatrizes e corações partidos
Sobre a história da Alemanha, todo mundo sabe um pouco. Muito comum, inclusive, é a menção à 2a Guerra Mundial e as sombras terríveis no Nazismo — cujas menções desavisadas vão render olhares severos de reprovação —, mas essa é só uma ponta do iceberg.
É verdade que todas as guerras e conflitos armados que por ali passaram também deixaram reais cicatrizes (e o olhar mais treinado acha marcas de bala e estilhaços em prédios pela cidade toda), mas Berlin, com sua ilha de museus e monumentos de todos os tipos, é um poço de cultura e história, de Reis na Berlim da Prússia até o David Bowie e o Kennedy em Schöneberg.
Os fatos e a miríade de pequenas também são dignos de menção. Friedrichstraße, por exemplo: a rua hoje é cosmopolita nas suas construções e lojas, mas em tempos de muro e União Soviética, sua estação de metrô era conhecida como “Palácio das Lágrimas”, por ter sido cena de desgostosas despedidas quando as pessoas do oeste não podiam ir ao outro lado, ainda que o contrário fosse permitido em rápidas visitas.
Sempre que passava por lá, em um S-Bahn balançando veloz rumo ao centro, via aquela construção da estação de metrô e quase conseguia enxergar seus transeuntes de outrora, em pesados trenchcoats, coturnos e moicanos, ou de uniformes soviéticos da Alemanha Oriental. Com exceção das crises e guerras, quase sinto saudade desse tempo que não vivi.
4. Eternamente tornando-se algo, mas nunca o sendo
Berlim, além de tudo que tem, é titular das melhores citações sobre cidades que há. Tenho dois exemplos favoritos:
• “Você é louca, minha criança; você deve vir a Berlin” – Franz von Suppé
• “Berlin está a isto condenada: eternamente a se transformar em algo, e nunca a sê-lo.”
Essa última é a melhor, e igualmente visual para qualquer um que se digne a passar pela cidade: as várias facetas de Berlin sempre foram tantas quanto os muitos guindastes e gruas de construção espalhadas por todos os lugares. E nessa pluralidade de identidades é que os habitantes se tornam experts em todas as possibilidades que a cidade oferece.
Do bairro central, com as embaixadas e consulados, há os experts em temas do mundo; e também em cada esquina dos bairros, há os experts no ar da madrugada, sob estrelas ofuscadas por holofotes e escondidas pelos guindastes, impregnado pelo cheiro de bebida deixa o ar da cidade cheirando à festa, como se estivessem a comemorar a sua eterna transição para uma fase seguinte que nunca vem.
Enfim, acho que a mensagem é clara: se você quiser estar no centro do mundo, viver bem, entender nosso lugar nesse planeta pela história incansável, e ao mesmo tempo poder estar sempre se transformando sem necessariamente precisar ser alguém – Berlim te espera.
*Créditos da foto de capa: “Brandenburger Tor abends” by Thomas Wolf, www.foto-tw.de – Own work. Licensed under Creative Commons Attribution-Share Alike 3.0 via Wikimedia Commons
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