Coluna: 365 pelo mundo, por Mari Camargo – Pole Pole em Zanzibar


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A cidade já foi parte do império português, de um sultanato árabe e de um protetorado inglês. Se isso for pouco, também é onde nasceu Freddie Mercury.

A vida passa devagar em Zanzibar – ‘pole pole’, como os zanzibaris dizem em Swahili, sem pressa e tranquilo. Fazer nada é fazer tudo em uma ilha onde tudo é vida.

Única por sua colonização, a história de Zanzibar é contada em cada canto de Stone Town, sua capital e um dos patrimônios mundiais da UNESCO, tanto pela etnografia da população quanto pela arquitetura histórica da cidade, que reflete a história e as diferentes influências que construíram essa sociedade pluricultural ao longo de mais de um milênio. Digo pluricultural porque, enquanto ainda africanos, os zanzibaris adotaram diferentes aspectos culturais dos muitos povos que lá se estabeleceram. Em seu idioma, por exemplo, ouve-se diversas palavras emprestadas do português, do hindu, inglês e árabe. É a globalização do tempo das caravelas que projetou a efervescência social na qual não se sente tensão: de turistas com roupas de praia a mulheres cobertas por burcas negras e guerreiros masaai com sua vestimenta característica, todos vivem misturados e em paz. Como deve ser.

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Além de Stone Town, existem inúmeras praias de areia branca, água cristalina e diferentes estilos, onde turistas se estiram languidamente sob o sol. Não tive tanta grana pra aproveitar o luxo da ilha e tudo bem também, minha experiência lá foi modesta mas transcendental. Algumas vezes demoro um pouco para entender o ritmo e frequência dos lugares que visito, mas Zanzibar facilitou as coisas pra mim. O ambiente despretencioso e as pessoas calorosas me envolveram sumariamente. A filosofia dos zanzibaris desvaloriza os problemas e enaltece as coisas boas da vida – ‘hakuna matata’, em Swahili, quer dizer ‘nenhum problema’, mantra repetido ad infinitum por todos com quem encontrei por lá.

Organizei minha viagem de maneira que pudesse explorar diferentes lados da ilha, passando tempo de qualidade em cada um. Arranjei um couchsurfing descolado em um apartamento antigo em Stone Town e, por não gastar dinheiro com a estadia, pude deixar minha mochila lá e fazer viagens de 2-3 dias às praias. Nesse ponto da viagem, já estava acostumada a tomar banho de balde e usar latrinas. A surpresa mesmo foi que em casas privadas e hotéis mais simples só se usa água salgada. Do mar. Pois é. Pra compensar, meus hosts eram incríveis – dois ingleses e três tanzanianos, que me explicaram muito sobre a vida local.

O meu roteiro, modesto e querido, foi esse:

1. STONE TOWN

Vale ressaltar: Stone Town vibra. Cada uma das pequenas ruas que forma o labirinto de pedra que é a cidade traz um cheiro novo, uma cena inusitada, um contato inesperado. Aproximadamente 95% dos locais são muçulmanos que seguem sua fé enquanto ao redor turistas observam, fascinados. Conversar com os locais e entender um pouco de suas vidas é uma das atividades mais recomendadas. Os Zanzibaris falam inglês relativamente bem e aproveitam todas as oportunidades para praticar. Tente passar da superficialidade e fazer perguntas que realmente importam e você receberá respostas sinceras. Não existe troca melhor que essa. Em uma dessas conversas, conheci um indiano que me contou que seu pai havia imigrado à Zanzibar da Índia, em 1920, onde abriu um estúdio de fotografia. E foi nesse estúdio que Freddie Mercury tirou suas primeiras fotos de bebê, que estão expostas orgulhosamente no balcão. Zanzibar e Freddie Mercury vivem uma história de amor e ódio. Amor porque foi ele que colocou a ilha no mapa do turismo, e ódio porque na Tanzânia o homosexualismo ainda é crime e amplamente rejeitado. De qualquer maneira, existem milhões de tours que te levam pelos principais pontos da infância de Mercury – a casa onde nasceu, seu templo favorito, etc. Não digo que não vale a pena, mas sinto que os locais tentam aprofundar uma conexão que foi extinta na adolescência do cantor, quando se mudou para a Inglaterra para nunca mais voltar à pequena ilha.

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O Slave Market também pode ser interessante. Zanzibar foi um importante ponto de venda de escravos durante os séculos XIII e XIV e, hoje em dia, é possível visitar a praça onde eram feitas as vendas. É interessante, mas os restos históricos não permanecem tão preservados como se espera. Por 5 dólares, é possível fazer o tour com um guia incluso, que te conta mais sobre a história da ilha.

Muitos turistas também apreciam o Spice Tour, que é uma boa opção pra quem tem inclinações gastronômicas. Basicamente, é um passeio pelas plantações de especiarias e frutas tropicais, com degustação de todos os principais elementos da culinária zanzibari, famosa por suas fusões de sabores de diferentes partes do mundo.

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Também vale a pena visitar o mercado da cidade, chamado Daradjani. Lá, você pode comprar temperos, especiarias e frutas frescas, além de visitar o movimentado mercado de peixe. Atrás do mercado, você pode comprar o típico pão de Zanzibar (que é uma delícia), além de tâmaras e outros doces caseiros. Passeie pelas ruas ao redor e veja também os tecidos produzidos na região, chamados Kitenge. A mistura de estampas e cores é irresistível (voltei com uma mala cheia).

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Na hora do jantar, se o budget estiver curto, vale a pena ir até o parquet Forodhani, onde todas as noites tem uma feirinha de comidas típicas, com muitos frutos do mar entre as opções. Procure a barraquinha da deliciosa sopa local, chamada Orojo – é uma mistura de todos os temperos e sabores da ilha.

2. JAMBIANI

Pra mim, Jambiani é a praia das praias das praias. Pegando um daladala (um tipo de fretado usado por locais) de Stone Town, a viagem dura entre 1h e 2h, e custa 2 dólares. Na praia, é possível achar acomodação por 30 dólares/quarto. O mais interessante da praia é ver como ela muda com a maré. Quando me disseram isso pela primeira vez não entendi como o nível da água poderia alterar a beleza da praia, mas tudo ficou claro quando vi uma extensão quilométrica de areia branca, que mais parece um deserto, e ao horizonte uma faixa de água brilhante cor turquesa. Depois, quando a água subiu, fiquei maravilhada com os cinco tons de azul que cintilavam no mar. Pra completar a paisagem, pode-se ver os barquinhos dos pescadores com suas velas brancas no horizonte. Não perca o nascer do sol: os primeiros raios cor de rosa do amanhecer se refletem na água cristalina. É poético.

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3. NUNGWI e KENDWA ROCKS

Localizadas ao norte da ilha, a 2h de daladala de Stone Town, essas duas são as praias mais comerciais de Zanzibar. A acomodação é um pocuo mais cara, partindo de 50 dólares/quarto. Existe algum espaço para tranquilidade e sossego, mas o assédio aos turistas por vendendores de tudo e qualquer coisa é uma constante. No entanto, se infra-estrutura é uma preocupação, essas são as praias certas a serem visitadas. A areia é branca e a água tem um tom impressionante de azul celeste, e, ao entardecer, o sol se põe maravilhosamente ao horizonte. Essas também são as praias das festas. Todos os Sábados, rola uma Full Moon Party em Kendwa Rocks: 15 usd (seco) para entrar e música eletrônica até da manhã. Nos outros dias da semana também tem movimento nos bares que formigam a praia.

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4. KIZIMKAZI

A primeira coisa que se ouve sobre Kizimkazi é: nadar com golfinhos. E é também a última coisa que aconselho. As agências que promovem o passeio dizem que é tudo muito lindo e natural, mas na realidade os golfinhos são encurralados em um certo ponto da praia para que os turistas possam vê-los e nadar com eles. É um assédio à fauna local que dificilmente pode ser saudável. Fora isso, a praia é linda. Fica a 1h30 de daladala de Stone Town, e é rodeada por uma floresta. O contraste entre o azul do mar e o verde vivo das árvores enriquece muito a vista. Como Jambiani, tem uma maré bastante aguda, que muda completamente a paisagem em questão de horas. A praia é bastante inexplorada e reservada, mas ao nadar é preciso estar atento com o fundo do mar: essa praia tem uma grande população de ouriços-do-mar e peixes pedra, que são venenosos. Essa é a mais tranquila das praias que visitei, e também tem menos opções de acomodação, que fazem o preço começar em 60 dólares/quarto.

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INFORMAÇÕES PRÁTICAS

QUANDO IR:

De Dezembro a Fevereiro e de Junho a Outubro são as altas temporadas, quando tudo fica (bem) mais caro. Novembro, Março, Abril e Maio são meses chuvosos, então evite se o objetivo é aproveitar a praia.

LOCOMOÇÃO

Do porto onde chegam as ferrys até o centro de Stone Town são aproximadamente 5 minutos caminhando. A não ser que você tenha muita bagagem, não vale a pena pegar um taxi. Para ir às praias, existe a opção de alugar um carro compartilhado com motorista por 10 dólares/pessoa. A opção low cost é pegar um Daladala por 2 dólares/pessoa, do ponto de daladalas que fica atrás do mercado Daradjani e também chegar às praias. Vá perguntando às pessoas no caminho, pois não há um ponto exato onde param todos os daladalas, e os horários também não são estabelecidos. É menos confortável e o trajeto é mais longo, mas te dá a oportunidade de conviver com os locais.

DIFERENÇAS CULTURAIS

Mesmo que tolerantes, os habitantes de Zanzibar ainda são muçulmanos. Sempre que possível, vista-se modestamente e respeite as mesquitas. Turistas do sexo feminino costumam chamar a atenção, mas ainda assim é um local seguro.
Outro ponto importante é sempre pedir permissão antes de tirar fotos de qualquer pessoa. Pode parecer bobagem, mas eles levam imagem pessoal a sério. Peça educadamente, não se ofenda se a resposta for negativa e respeite sempre a vontade alheia.

Barganhe sempre. Como a ilha sofreu um grande aumento no turismo durante os últimos anos, os preços estão ligeiramente inflacionados. Seja camarada e peça um desconto, todos costumam ser flexíveis.

VISTO

O visto adquirido para a Tanzânia vale também pra Zanzibar e pode ser comprado no aeroporto na chegada ao país por 50 dólares.

COMO CHEGAR

De Dar Es Salaam, existem ferrys diárias para a ilha. Na ida, fui com a companhia Azzam, que é a mais confiável, organizada e puntual. São 45 dólares por pessoa. Na volta, peguei a ferry noturna, que custa 20 dólares. É menos pontual e a embarcação não é tão moderna, mas não tive nenhum problema durante o trajeto. Para horários, vá até o porto e pergunte nas diferentes companhias: as informações que encontrei em websites são inexistentes ou desatualizadas, com exceção da Azzam. Existe também um aeroporto em Zanzibar. De Bruxelas, é possível encontrar passagens a partir de 150 euros. De outros aeroportos, a assagem gira em torno de 400 euros. De Dar Es Salaam, é possível pegar vôos fretados por 80-100 dólares/pessoa.

 

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  • Sonete Terezinha do Canto Antonio

    Boa tarde, adorei saber um pouco sobre Zanzibar, já havia, visto sob o olhar de Manuel Soares, repórter e agora por Mari.
    Grata.

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