Como é visitar o Muro das Lamentações em Jerusalém
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Nunca acreditei que aquele lugar fosse me tocar tanto. A fé dos outros, ainda mais vista de longe, parece muito dos outros. Só que ao chegar diante do Muro das Lamentações, em Jerusalém, senti algo diferente. Primeiro porque há a bênção de toda realidade não ser nem de longe o que imaginamos. Afinal, nossa mente consegue visualizar imagens, mas quase nunca sons, cheiros, temperaturas e o astral. O subjetivismo impede de reproduzirmos tudo em nossas mentes e nos obriga a viajar, a ver, a sentir. Ainda bem.
Numa única viagem, entre abril e maio deste ano, estive quatro vezes no chamado Western Wall, o Muro Oeste do que se acredita ter sido o Grande Templo de Herodes, no século 1 d.C.. O lugar mais sagrado para o judaísmo me revelou uma faceta ativista e movimentada da religião que eu desconhecia, já que o máximo que havia visto eram pacíficas famílias ortodoxas de Higienópolis e dos Jardins, em São Paulo, a caminho da sinagoga.
MELHOR DIA E HORA PARA VISITAR O MURO
As orações e cânticos se sobrepõem em tons mais altos e fazem uma espécie de reza coletiva, em que cada um recita ou lê uma parte da Torá, o livro sagrado dos hebreus. Para quem chega de fora, um quipá é dado de graça. Homens e mulheres ficam em partes diferentes da parede, separados por uma cerca. Mas cada indivíduo parece imerso em sua oração e universo.
Ninguém liga para você ali, pode tirar fotos à vontade: a não ser que seja sábado! Durante o famoso shabat é proibido por completo usar máquinas e dispositivos acionados por botão. Uma pena, pois é o dia mais bonito, muitos dos judeus ortodoxos estão cobertos por lindos véus brancos e os momentos de reza coletivas são ainda mais catárticos e cênicos. Dica: as melhores fotos são no entardecer, entre 16h30 e 17h15, quando a luz cai banhando o muro e fica espetacular – para cliques evite ir logo cedo, pois a parede fica na sombra.
O QUE É O MURO DAS LAMENTAÇÕES?
Aquele lugar é muito mais um polo de fé do que um sítio exclusivo do judaísmo. As pessoas de múltiplas crenças se aproximam da parede, se curvam, tocam, apoiam suas mãos e cabeças e rezam. Se pedem, se agradecem, se perguntam, não sei. O fato é que há entrega e muita verdade naquele poderoso amontoado de imensas pedras-sabão encaixadas com 19 metros de altura.
Andorinhas fizeram seus ninhos nas partes mais altas do muro e as revoadas no fim de tarde deixam tudo ainda mais lindo. Quando se desce para o muro há um check-point, um posto de controle, com detector de metais e esteira de raio-x para bagagens. Deste ponto se tem uma visão ampla do muro, ainda que com uma grade besta na frente. Dali também se avista bem pertinho o Domo da Rocha, a lindíssima mesquita que fica onde se acredita ter sido o outrora templo de Herodes e o teto dourado dá o tom desta que é a mais sagrada construção muçulmana de Jerusalém.
Embora muçulmanos não possam se aproximar do Muro por questionáveis questões de segurança – a recíproca é verdadeira quanto ao Domo da Rocha – turistas de várias religiões encontram aqui um canto apropriado para exercer sua espiritualidade, independentemente de crença.
O PODER DO MURO DAS LAMENTAÇÕES
Tem gente de todo tipo ali, comerciantes e policiais em intervalo de trabalho, judeus ortodoxos que parecem rezar por inúmeras horas diárias e sobrevivem com ajuda de custo do Estado de Israel, pais e mães com filhos e filhas pequenos. A uma certa altura pouco importa saber no que bota fé aquela pessoa ali, com a mão ou a cabeça encostada na pedra. Só o acreditar e sentimento da força do lugar já valem a pena. Veja que eu não disse a “suposta força”. Só não sente quem não quer.
Nas entranhas das pedras as pessoas deixam bilhetes com seus pedidos, seus agradecimentos. Pode reparar nessas fotos que falta espaço e que muitos se esticam para alcançar algum cantinho. Periodicamente o muro é limpo e os bilhetes são guardados pela comunidade judaica – há controvérsias sobre se são queimados ou não. De qualquer forma, não cessam os bilhetes por ali.
Após uma amiga me pedir para colocar um bilhete para ela no muro, postei na minha página do Facebook se outros amigos tinham desejos a fazer. Recebi uma enxurrada de 26 inbox com mensagens mais ou menos grandes, que iam de nomes completos até uma página inteira com reflexões e meditações sobre o sentido da vida. Tiveram vários pedidos de cura de doença e acabei até descobrindo que uma pessoa querida está muito doente. Claro que tudo isso é confidencial e que não revelei nada. Se por um lado me senti uma espécie de padre no confessionário, por outro era uma espécie de Chico Xavier a psicografar aquelas mensagens todas em pedacinhos de papel ao longo de quase duas horas.
Posso apenas dizer que senti algo poderoso e sincero ao colocar cada uma daquelas mensagens na entranha daquelas pedras do Oriente Médio. Como se houvesse esperança na ponta das minhas mãos. Como se de alguma forma eu fosse um intermediário numa corrida de revezamento e ali estivesse passando o bastão adiante. Fiz tudo isso porque quis, independentemente de religião, muito mais por acreditar que somos todos transformadores inatos da vida do próximo.
Marília Ribeiro dos santos
Legal o murro de lamentacoes
Segredos de Viagem
Feliz que gostou! =)
Riva
Interessantes suas explicações.Realmente, é um lugar que tem uma espiritualidade que faz com que a pessoa sinta-se mais próxima de Deus.Gostaria apenas de fazer uns poucos esclarecimentos: o Kotel ou Muro Ocidental,o lugar mais sagrado para os judeus,não era exatamente uma parte do próprio Templo. Ele era uma parte do muro que o cercava, mais a oeste do Templo, e foi transformado em um depósito de lixo pela Jordânia. Isto mesmo, era um lixão durante o domínio jordaniano! Somente a partir de 1967,depois da Guerra dos Seis dias contra os exércitos do Egito, Jordânia, Síria e Líbano, O Kotel voltou ao domínio israelense, e como vc disse, aberto a pessoas de múltiplas crenças.Quaisquer pessoas, de qualquer crença, que queira se aproximar dele por motivos de ódio, devem ser proibidas ,para segurança do Kotel e de todos que estão lá, e não por “questionáveis questões de segurança”, como vc alega.
Os papeizinhos que são colocados entre suas pedras contêm pedidos e agradecimentos a Deus. Acreditamos que Ele os lê, pois nesse lugar tão sagrado, estamos mais perto Dele.
Felipe Mortara
Muito obrigado pelas ótimas impressões e adendos feitos. É muito bom quando contamos com comentários aprofundados e repletos de conhecimento dos leitores. Cada viajante tem a sua percepção do lugar, que sempre pode ser complementada com boa informação. A Equipe do Segredos de Viagem agradece muito.
Hortencia Lemos
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