Ela passou 8 meses viajando sozinha de moto pela África e vai te inspirar a cair na estrada
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Se você está precisando de uma boa dose de inspiração ou precisa daquela forcinha extra para tomar coragem e cair nesse mundo (com a companhia de outras pessoas ou somente a sua própria), está no texto certo! Conheça a história da Kimie Koike, que se jogou em uma viagem de 8 meses de moto pela costa oeste da África!
“O mundo não tem fronteiras e minha casa é o mundo”. Foi com esse pensamento que, aos 23 anos, Kimie decidiu sair sozinha para fazer um mochilão praticamente sem roteiro pela Ásia, que seria o ponto de partida para uma aventura ainda mais inusitada.
O primeiro desafio foi vencer a apreensão de estar sozinha. Até então, nem almoçar sem companhia era uma atividade confortável, ela gostava muito de estar sempre rodeada de pessoas, sem nenhum apreço especial por momentos para se encontrar com seu próprio espaço ou tempo sozinha.
Na cara e na coragem, Kimie partiu rumo à Ásia, onde ficou por seis meses. Ela saiu sem planos e dividiu seu tempo entre Tailândia, Camboja, Vietnã, Japão, Laos, Filipinas, Indonésia e Mianmar.
“A viagem da Ásia foi uma abertura de portas muito importante. Foi uma transformação por completo, de olhar, de vida, de liberdade. Eu voltei com outros conceitos sobre amor, por exemplo. Foi um lugar que eu sentia na pele uma felicidade plena. Na viagem consegui juntar o melhor de mim, com o melhor do mundo, e ainda o melhor das outras pessoas. Isso resultou em uma sensação de êxtase muito louca. Foi aí que eu entendi que na minha vida eu preciso viajar, que é isso o que me alimenta por completo”, diz.
Depois da primeira experiência transformadora, Kimie decidiu que viajar seria parte fundamental da sua vida. Aproveitou a flexibilidade que o trabalho como assistente de direção de cinema lhe dava e juntou dinheiro para uma segunda experiência, ainda mais intensa.
Após o convite despretensioso de uma amiga argentina e alguns meses de preparação, Kimie partiu para a África aos 28 anos de idade, onde ela pretendia ir do Marrocos até a África do Sul de moto pela costa oeste. Um acidente que sua amiga sofreu fez com que a viagem fosse abreviada e terminasse na Libéria, mas Kimie contou tudo sobre os sete meses que passou andando na Domi (nome que deu à sua moto) pra gente! Confere aí:
Como surgiu a ideia de ir para a África?
Eu liguei pra ela [a amiga argentina] e falei “andei pensando muito em você, você tá bem?”, e ela falou “tô. Vamos comigo para a África de moto?”. Foi bem inusitado e direto assim mesmo, talvez ela soubesse que eu seria a única pessoa que iria considerar e aceitar o convite de verdade. Logo em seguida eu perguntei se poderia ir na garupa dela, afinal eu nunca tinha nem dirigido uma moto antes. Quando ela disse que isso não rolaria porque tinha muita mochila, a solução foi responder: “ah tá bom, então eu aprendo”.
Eu tirei carta de moto aqui no Brasil e comprei uma moto com o intuito de treinar muito antes de ir, porque afinal de contas eu tava indo para um lugar onde não seria nada fácil só sair andando por aí. Só que no final das contas eu andei com a moto só umas três vezes antes de ir. Minha quarta volta de moto já seria na Espanha, onde eu tinha uma moto já comprada que estava esperando por mim, a “Domi”. Lá fiz a documentação e começamos a descer para o Marrocos.
Se a viagem da Ásia não foi planejada, essa foi muito menos… eu ainda não sabia de nada do que estaria por vir.
Muita gente te desincentivou a fazer essa viagem?
Pro meu pai foi mais difícil de contar, porque ele é apavorado com a imagem da África e ele é apavorado com moto, e eu sou a única filha dele. E quando eu penso, realmente não tem nenhum sentido dizer “gente, tô indo pra África de moto”, porque eu nem andava de moto. Por outro lado, a minha mãe foi mais tranquila e me deu muito apoio. Lembro bem dela falando: “filha, tem que ir mesmo, você é um ser humano do mundo”.
Os meus irmãos andam de moto, então eles me ajudaram muito a comprar a Domi, me deram várias dicas e estavam super me apoiando. Mas ao mesmo tempo, eu sinto que eles não sabiam exatamente o que eu ia fazer. Quando eu finalmente conversei com o meu pai, foi uma surpresa porque ele me apoiou de cara. “Eu sei que você é responsável, e eu sei que vai dar tudo certo”, ele me disse.
O mais engraçado é que eu mandei um e-mail para todos os consulados brasileiros em todos os países que eu pretendia passar e todos eles responderam “eu acho que isso não é uma boa ideia”. Mas eu não sei por quê eu estava muito decidida, eu só sabia que tinha que ir e queria muito ter essa experiência. Nada estava na minha zona de conforto e eu sentia muito medo sim, mas no geral as pessoas me apoiaram e me deram muita força. Isso aconteceu porque elas me conhecem e sabem que eu estava realizando um projeto que pra mim era muito importante.
Você conseguia mandar notícias quando estava lá?
Nem sempre. Mas eu comprei um negocinho que se chama SPOT que é basicamente um GPS que outras pessoas têm acesso ao seu login e vão vendo onde você está. Então por exemplo, eu posso acionar um botão que a cada dez minutos rastreia onde eu estou, e um botão que quando eu chego manda uma mensagem pros celulares cadastrados do tipo “cheguei, estou bem”. Então eu sempre apertava esse botão pra deixar meus familiares e amigos mais tranquilos. Foi uma descoberta e tanto. Tinha até um botão de emergência para casos extremos, de vida ou morte mesmo, mas esse eu nunca precisei apertar. Ainda bem!
Você fez tudo com a sua amiga?
A gente se separava em alguns momentos. Por exemplo, eu fiz um curso de dança contemporânea africana no Senegal, de 15 dias. E ela também fazia alguns desvios, porque ela tinha uma meta de conhecer todos os países do mundo de moto, então várias vezes ela meio que precisava cruzar uma fronteirinha ali do lado, só para dar um ok nesse país. Quando eu fiquei bastante tempo no Senegal ela foi pro Mali e voltou. A gente ia pensando nas rotas que usaríamos e quanto tempo ficaríamos em cada lugar conforme a viagem ia rolando, foi um processo muito vivo e dinâmico. E várias vezes a gente se separava, como por exemplo quando chegávamos em um lugar e ela queria ir embora e eu queria ficar mais. A primeira vez foi meio chocante, pensei: “Mas como eu vou pegar uma estrada sozinha? Socorro!”. Mas no final eu acabei ficando super acostumada e isso não era um problema.
Como você se sentia lá?
Essa relação com a moto foi uma coisa muito nova, então todos os dias eu estava de frente a um grande desafio, sabe? Só que ao mesmo tempo, a moto, como qualquer esporte radical que você faz, você precisa ter uma certa confiança para sair do lugar, porque se não você cai. Então eu tinha uma confiança que eu fui adquirindo com o tempo, com a experiência e tudo o mais, mas eu nunca estava completamente confortável.
Eu acho que pra visitar alguns países da África, você tem que estar muito disposto a se colocar em um outro lugar, bem diferente do seu, e ter consciência disso. Se você vai pra lá querendo viver o que já está acostumado, você não se adaptará, você não conseguirá aproveitar. Tudo é muito diferente. E essa é a parte mais bonita de lá. No fundo, você tem que se colocar realmente em um lugar em que você não viveria de jeito nenhum normalmente.
Pra mim a Ásia foi uma viagem muito transformadora, mas que me pegou em um âmbito mais espiritual. A África é o oposto, a África é visceral. A África é corpo, pé no chão, terra, presença. Ou você está lá existindo por completo ou não dá certo, você tem que estar muito presente.
Acho que também por eu estar viajando de moto eu tinha que estar muito focado no que eu estava fazendo ali, o que é o mais incrível de uma viagem de moto. Você realmente se sente parte do ambiente, você sente o vento, você sente o cheiro, você sente a chuva, você sente o caminhão que vai passar do seu lado e vai jogar muita areia na sua cara, você sente tudo. Você faz parte daquilo. Aquilo influencia em você e você influencia naquilo, é uma troca muito real.
O que te motiva a fazer esse tipo de viagem?
Pra mim, o que alimenta mesmo a minha alma é conhecer formas de vida diferentes, pessoas diferentes, paisagens diferentes, contextos diferentes. Pra mim, viajar te ensina coisas que nenhum outro lugar te ensina. Eu nunca fui uma pessoa muito boa de estudar, eu sempre quis viver as coisas na pele para eu sentir, eu sempre quis aprender na vivência mesmo. E pra mim nada substitui a experiência que você tem quando você viaja, porque você abre o coração e o corpo pra uns lugares que você não consegue simular na sua vida. É o meu alimento da alma, já entendi que é o que realmente me faz feliz e é onde eu consigo acessar o melhor de mim.
E qual é a diferença de você estar sozinha nessas experiências?
Eu acho que é uma experiência de uma certa liberdade. Quando você viaja sozinho você tem um contato diferente com as suas decisões, o que você quer fazer, quando e onde você quer estar com as pessoas ou não. É uma liberdade muito diferente. Pra mim, viajar sozinha, pelo menos como a primeira experiência, foi muito bom porque eu tive um contato comigo que eu nunca precisei ter antes. Você precisa pensar só no que você quer, e as vezes no dia a dia você faz muitas coisas automaticamente ou por outros motivos que não são a sua vontade. Ter que exercitar essas decisões diariamente é muito libertador e é também um exercício de auto-conhecimento.
A Patti Neves já fez uma viagem sozinha para o Mali. Na época o cenário político era diferente, e hoje já não é mais recomendado fazer essa mesma viagem que ela. Mas o relato é extremamente inspirador para quem também quer se jogar na África sozinha como a Kimie e a Patti. Confira!
O que mudou no seu cotidiano desde que você começou a viajar sozinha? Você já almoça sozinha?
Almoço sozinha, vou no cinema sozinha (risos). Ainda tenho muito o que aprender, mas eu acho que eu gosto mais de mim, no geral. Eu me conheci e eu gosto mais de mim.
Tem algum conselho pra quem precisa de um empurrãozinho para se aventurar por esse mundo?
O que eu diria é que às vezes a gente coloca os nossos sonhos em um lugar muito inatingível, para gente sempre ter algo para almejar mas nunca de fato concretizar. Acho que isso é até uma forma de auto-sabotagem, porque na maioria das vezes não estamos fazendo nada efetivo para nos direcionarmos a esse sonho, sabe? Eu acho que o sonho tem que ser visto como algo que você merece e mais, que você consegue atingir e ir atrás dele.
E você já está pensando na próxima viagem?
Sim, mas tô muito na dúvida. Ou eu volto pra África, ou eu vou pra Índia, ou penso ainda em fazer um rolê pelo Brasil. Mas vai ser mais pro final do ano.
Você procurava alguma coisa? Você encontrou?
Eu encontrei muita coisa com certeza. O que você encontra é sempre muito diferente do que você achava que procurava, porque é tudo muito novo e diferente da sua realidade. Eu sinto que a minha procura é muito aberta e por isso eu sempre encontro muito mais do que esperava, e mais do que eu poderia imaginar.
Quero pensar que essa é uma procura que nunca vai acabar, o que é maravilhoso, porque assim eu vou seguir encontrando um monte de coisa, afinal o mundo é muito grande! ♥
Gostou da história da Kimie Koike? Você pode acompanhar mais das suas aventuras pelo instagram @Bykimie e pela página do facebook.
Vaneide Fidelis de souza
Parabéns! !
Amo de paixão moto
Vou buscar está coragem 😊😊
Segredos de Viagem
Espero que a entrevista com a maravilhosa Kimie tenha te inspirado! =)
Obrigada pelo comentário querida. Beijos
Analuiza Carvalho
Experiências: é o que devemos buscar nessa vida! Viajar para mim também é sinônimo de aprendizado, de sair da zona de conforto e observar como o mundo vive. De transformação, de autoconhecimento.
Duas viagens tão diferentes quanto intensas. Isso modifica uma pessoa, não tenho dúvidas! Tenho certeza ainda de que foram vivências externas, mas com fortes mergulhos internos.
Que cada um possa ter a coragem de buscar por aquilo que te modifica, te liberta, te ensina. Seja onde for, seja como for.
Fernanda Scafi
Viajar sozinha é tudo de bom mesmo! Um grande aprendizado e vale a pena demais! Mas pra mim, o mais surpreendente de tudo é ela estar de moto – morro de medo até de dar uma volta no quarteirão de moto! kkkkk E 8 meses é um período muito longo. Acredito que mesmo com períodos de descanso no meio, cansa demais! O máximo que viajei sozinha foram 3 meses (exceto intercâmbios) e as últimas 2 semanas já estava cansada de tudo hehehe.
Sara Baptista
Oi Fernanda! Sim, quando ouvi a história da Kimie pela primeira vez fiquei chocada com a coragem que ela teve para fazer essa viagem de moto! E eu também fico um pouco assustada de pensar em ficar oito meses sozinha, mas em alguns momentos ela teve companhia, deve ter ajudado.